Mais um poesia acústica?

Bruno Garofalo
3 min readMar 8, 2022

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Talvez, com esse título, eu esteja prestes a dar um nó na sua cabeça, porque a verdade é que eu jamais reclamaria de mais um poesia acústica. Para mim, apesar de ser mais do mesmo, é um mesmo bom, que me agrada muito e que dificilmente vai me decepcionar. Exceto, é claro, pela execução, mas não pela existência de mais ou menos um.

Mas o ponto não é esse. Você provavelmente já fez alguma piada de “quantos homens são necessários para trocar uma lâmpada?” Ou qualquer coisa do gênero. Subvertendo essa mesma piada e trazendo-a para um contexto mais sério e mais familiar para você que me acompanha por aqui: quantas cartas anônimas são necessárias para passar uma mensagem do jeito que eu quero?

A resposta é: infinitas.

O que separa o poesia acústica (enquanto projeto) do Carta anônima é a necessidade comercial de se fazer mais um, por causa do sucesso. Os músicos podem, de forma independente, continuar se expressando como sempre fizeram por meio de suas próprias músicas, sem precisarem entrar debaixo da asa desse projeto em específico.

O tempo passa. A vida acontece. Eles continuam compondo, eu continuo escrevendo, porque sempre há algo novo a dizer. E mesmo assim, por algum motivo, eu ainda me pego preso, querendo falar as mesmas coisas de sempre. Escrever mil cartas para uma mesma pessoa talvez jamais seja suficiente; como também tudo que eu tenho a dizer pode ser dito em uma só.

É um grande jogo de tênis entre a vontade de dizer coisas que eu não conseguiria de outra forma batendo de um lado; e a sensação de que nunca é o suficiente batendo do outro. Vez ou outra eu passo raspando na rede do “sentimento genial expresso em uma determinada carta". Fora isso é uma partida monótona e repetitiva, muitas vezes.

Falar sobre o demônio da insatisfação é talvez uma forma de enfraquecê-lo. De garantir (ou tentar) que, da próxima vez, eu entenda melhor meus sentimentos e escolha melhor as minhas palavras. Que eu não sinta medo do destinatário sair correndo porque “é muita coisa". (Inclusive, talvez eu precise enfraquecer esse demônio do trauma também.)

É uma carta anônima hoje, uma música amanhã. Tudo tem um prazo de validade muito curto, porque o tempo deteriora as relações e força os sentimentos a entrarem em decomposição. E como cadáveres perdem a matéria orgânica, sentimentos perdem o sentido. Só sobra um subproduto meio asqueroso, que eu tenho um certo receio de ficar perto por tempo demais. Dá vergonha pensar que um dia eu senti aquilo.

Então eu continuo nesse ciclo: sempre algo mais para dizer a mesma coisa, que não foi dita em sua totalidade por falta de algo que eu também não sei explicar o que é. Mas há um lado positivo.

Posso continuar escrevendo para sempre.

Eu abri meu coração. Agora é hora de você abrir o seu. Curtiu? Então deixa suas palmas aí nesse texto se ele fez você refletir ou mesmo sentir alguma coisa. Vale até se te arrancou um sorriso. Se você quiser me acompanhar mais de perto e saber com exclusividade o que eu penso, você pode clicar no botão ao lado da minha foto para me seguir no Medium e sempre ficar de olho nas publicações.

Se você quiser mais, leia também:

Carta anônima #19

Carta anônima #18

Viva e não deixe morrer

Paraíso

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Bruno Garofalo

Levando poesia à vida comum. Textos às segundas, com (cada vez menos) raras exceções. Escrevo sobre o que quer que me inspire.