Carta anônima #18

Bruno Garofalo
3 min readFeb 7, 2022

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(No fim, essa carta não saiu como eu planejava, mas por enquanto é melhor assim. Qualquer dia eu te escrevo outra, prometo.)

Há duas coisas que você precisa saber sobre mim. Não é nada secreto, nem novidade; talvez sejam só coisas que você não saiba.

A primeira: eu sou obsessivo com alguns detalhes. Se eu estou num momento em que preciso de uma sensação específica, e só uma música me traz essa sensação, lá vou eu ouvi-la obsessivamente. Até enjoar. Ou até a vibe passar e eu decidir que já senti o suficiente.

A segunda: eu sonho muito com as pessoas. Às vezes, inclusive, consigo ter sonhos lúcidos. Não existe uma regra: pode ser alguém que não vejo há anos, pode ser uma pessoa que ocupa meus pensamentos todos os dias, em qualquer quantidade. E geralmente, quando eu sonho, fico pensando nela durante o dia seguinte. Dependendo do sonho, isso vai até mais longe.

Desde que eu te conheci, sonhei com você algumas vezes. E não há um dia sequer em que eu não tenha pensado em você.

Resolvi dizer para tirar isso de mim e, quem sabe, tentar compreender um pouco melhor como a minha cabeça funciona. Certas coisas, no entanto, estarão sempre um passo além do que a minha compreensão chega. Acho que nunca vou ser capaz de entender como meus sentimentos funcionam.

Lembro de quando situações parecidas aconteciam na minha adolescência. Não tinha tanto para fazer da vida quanto tenho hoje, não tinha grandes objetivos, sequer tinha alguma compreensão mais profunda do que ou de quem eu era. E o que acontecia era o óbvio: aquilo entrava na minha cabeça e tomava mais espaço do que podia.

Como adolescentes são nada mais do que uma bomba-relógio de hormônios que não só está prestes a explodir, como também explode o tempo todo, eu sentia demais com isso. Às vezes eu sentia até uma dor física quando passava por determinadas situações. E tal qual o Enigma da Falha de Amigara (do Junji Ito), eu sentia que o vazio dentro de mim tinha forma. Não minha, mas de outra pessoa.

Fato é que eu amadureci. Ainda sinto, mas não tão intensamente; inclusive um vazio, às vezes, mas continuo não sabendo ao certo a forma que ele tem. Os nomes ainda me confundem, mas sei que os sentimentos já não são mais explosivos como antes. Já não sugam minha energia e minha produtividade.

E talvez essa sensação estranha seja só um grande anseio pelo futuro. Pelo dia em que eu vou viver uma próxima aventura e que meu caminho me levará até você, como aconteceu nos diversos sonhos que tive. E aí talvez eu consiga aquietar tudo isso que acabou convergindo: as obsessões, as músicas, os sonhos e os pensamentos diários.

Não quero criar expectativas porque sei que é errado. Também todos os dias eu me pego pensando que só estou me deixando levar pela magia, que nada disso é maior do que parece ser. Que eu não devo ceder ao adolescente que há dentro de mim, ávido para sentir e viver tudo aquilo que lhe foi negado. Mas que, de alguma forma, tudo isso me parece certo, como o sinal que eu esperava encontrar numa encruzilhada grande e solitária.

Quanto mais eu escrevo, mais eu tento me justificar, e menos sentido eu faço. Vou me perdendo num tornado de palavras que joga para longe meus sentimentos outrora tão organizados. As coisas bonitas que tenho para te dizer, quero dizer quando o momento for propício. Até lá, um dia de cada vez, um sonho de cada vez. Você já me permitiu muito, já me deu muitos sentidos, e por isso eu sou grato. Não chamo isso de chegar longe, mas sim de chegar ao lugar certo.

E confesso que mal posso esperar para te tornar imortal mais uma vez.

Eu abri meu coração. Agora é hora de você abrir o seu. Curtiu? Então deixa suas palmas aí nesse texto se ele fez você refletir ou mesmo sentir alguma coisa. Vale até se te arrancou um sorriso. Se você quiser me acompanhar mais de perto e saber com exclusividade o que eu penso, você pode clicar no botão ao lado da minha foto para me seguir no Medium e sempre ficar de olho nas publicações.

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Bruno Garofalo

Levando poesia à vida comum. Textos às segundas, com (cada vez menos) raras exceções. Escrevo sobre o que quer que me inspire.