Fantasmas

Bruno Garofalo
3 min readNov 22, 2021

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Boo

Já sentiu como se estivesse sendo observado o tempo todo?

Pois eu já.

Na verdade, sempre me disseram que eu era sensitivo, ou algo assim. Que eu tinha certa facilidade de perceber presenças e sentir energias e fazer sei lá o quê que eles costumam fazer quando se encontram. Mas eu nunca acreditei. Principalmente quando me contavam suas experiências sobrenaturais em que viam espíritos.

Eu não fazia ideia se um espírito tinha a forma de quando morreu, outra qualquer ou se era simplesmente aquele fantasma clássico do lençol jogado sobre o corpo, com dois buracos onde seriam os olhos e (às vezes) outro onde seria a boca. E nunca me preocupei com isso.

Até que, do dia para a noite, algo em mim foi desbloqueado e eu vi o primeiro. Era uma menina de talvez quinze anos, com um cabelo preto comprido e um vestido branco. Não era possível ver seus pés, então não tive como garantir qual das hipóteses estava certa. Mas de uma coisa eu sabia: agora eu conseguia vê-los.

Com o tempo, fui enxergando cada vez mais deles. E percebi que eles estavam em todos os lugares. Comecei a me perguntar até se o vizinho que eu escutava tocar jazz em seu saxofone era também um fantasma, já que ninguém nunca falava sobre ele. Fui me acostumando. Eles já não me assustavam mais.

Na verdade, alguns nem percebiam que eu conseguia vê-los, de tão natural que era para mim. Até passei a me sentir confortável com uma possível vigilância constante; afinal, não era como se pudessem fazer algo comigo. Não é como nos filmes: eles não conseguiam derrubar coisas. Faziam barulhos, mas só eu os escutava. E fui percebendo que esses barulhos na verdade eram diálogos, e alguns deles gostavam de se comunicar comigo.

Enquanto eu ficava enfurnado no meu quarto fazendo música, alguns deles até opinavam, às vezes no meio do processo, às vezes ouvindo o produto final. Por mais incrível que pareça, eles gostavam do que ouviam. Também não era suficiente para concluir se eles só se sentiam assim porque estavam há muito tempo sem ouvir algo, ou se porque eu era realmente bom no que fazia.

E, caso você esteja se perguntando se há um fantasma perto de você agora, a resposta provavelmente é sim. Eles estão em todos os lugares. Os vivos passam por eles e sequer fazem ideia. Quer dizer, talvez alguns façam, como um dia eu pude fazer. Daqui da minha janela, consigo ver um fantasminha no meio da rua. Atravessando na faixa de pedestres.

Ele sim possui um lençol jogado sobre o corpo. Vai ver era só mais um músico, como eu. Como eu sei disso? Bem, não sei. Só um chute. Como o jazz que me assombra onde quer que eu vá. Eu ainda consigo ouvir o saxofone. Aquele vizinho era realmente um fantasma. Eu, se fosse você, ficaria esperto.

O jazz pode estar assombrando você agora.

Eu abri meu coração. Agora é hora de você abrir o seu. Curtiu? Então deixa suas palmas aí nesse texto se ele fez você refletir ou mesmo sentir alguma coisa. Vale até se te arrancou um sorriso. Se você quiser me acompanhar mais de perto e saber com exclusividade o que eu penso, você pode clicar no botão ao lado da minha foto para me seguir no Medium e sempre ficar de olho nas publicações.

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Esse texto é uma homenagem ao álbum do Augusto Diniz (que fez a trilha do meu podcast). Você pode ouvir clicando aqui.

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Bruno Garofalo

Levando poesia à vida comum. Textos às segundas, com (cada vez menos) raras exceções. Escrevo sobre o que quer que me inspire.