Terapia onírica #1

Bruno Garofalo
4 min readMay 3, 2022

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Se caísse um meteoro naquele lugar, eu ficaria mais feliz.

“Lá vou eu de novo”, pensei, sentado na sala de espera. Me senti numa cena de filme. Era fim de tarde, um pouco após a famosa golden hour, em que a luz dourada e suave do sol deixa quase tudo mais bonito. Quase, porque aquilo ali não tinha muita salvação. Um ventilador de teto rodava tão lentamente que não dava para dizer se ele estava ligado ou apenas sendo movimentado pela brisa que vinha de fora.

Os únicos sons que eu escutava eram páginas de revistas sendo passadas e o teco teco incessante do teclado da secretária. Ela trabalhava com tanto afinco que mais parecia um androide. De vez em quando, uma buzina distante na rua ainda quebrava aquele clima monótono, mas não havia muito o que fazer. Eu não conseguia me concentrar. Duvido que você consiga, se dormir menos de três horas por dia.

A porta de madeira pesada se abriu, e de lá saiu uma pessoa sem qualquer brilho nos olhos. Infelizmente, eu não tinha como dizer se ela havia entrado da mesma forma. Assinou algum papel em cima do balcão e foi embora. O homem de roupa social foi até lá, debruçou-se e falou qualquer coisa com a secretária, que ainda demorou alguns segundos para desgrudar o olhar da tela do computador.

“Próximo”, ele disse, e eu sabia que era eu. Me levantei e fui até o consultório, cumprimentando-o com um aperto de mão no caminho. Ele deixou que eu entrasse primeiro enquanto terminava de checar algumas informações, e eu pude observar um pouco em volta. Era um consultório até charmoso, com duas poltronas, um divã, algumas plantas espalhadas e uma estante de livros. Um dos vasos de planta estava em destaque, com uma pequena placa à frente em que se lia Calea zacatechichi. Um nome que, a princípio, não me remetia a nada.

Pendurados em uma das paredes, havia dois quadros. O primeiro era um diploma, conferindo ao (agora) Doutor Morfeu de Calares o título acadêmico após defender uma terapia de… Sonhos? Eu suspeitava cada vez mais que eu nunca tinha acordado e estava em um filme, de fato. Isso: eu estava sonhando que estava em um filme. No segundo quadro, lia-se “A Sociedade de Estudos Oníricos confere ao Doutor Morfeu de Calares a alcunha de O PIOR DOS TERAPEUTAS, devido aos seus serviços prestados em prol do bem estar onírico de seus pacientes.”

Ok, esqueça o filme. Eu estava sendo vítima de uma grande pegadinha. Olhei um pouco em volta para saber se havia alguma câmera escondida, e fui até a janela, concluindo que tudo naquela situação era caricato demais. Pendurado na parte de cima, havia um filtro dos sonhos. Quando toquei na ponta da pena, senti meu corpo inteiro estremecer, como se eu tivesse levado um choque. A porta se fechou atrás de mim e o pior dos terapeutas me convidou para escolher uma das poltronas e me sentar. Fiz o que ele pediu, em alerta, pronto para sair correndo caso

— Estou vendo aqui na sua ficha que você está tendo problemas recorrentes para dormir, e que está tendo alguns sonhos muito específicos.

— Calma lá. Antes eu quero saber o que significa você ser o “pior dos terapeutas”.

— É o que é. Você tem total liberdade de se levantar e ir embora, se quiser. Mas saiba de uma coisa: apenas eu sou capaz de te ajudar a resolver o seu problema.

Algo nas palavras dele soou real demais, e eu resolvi ficar.

— É… Como posso explicar… Uma amiga me disse que eu posso estar recebendo mensagens por meio dos meus sonhos. E eu sei que tem algumas coisas lá que eu gostaria de ver melhor, mas acordo sempre que tento. E eu tenho dormido muito pouco. Como funciona seu método?

— Já ouviu falar de regressão?

— Alguma coisa.

— Então, é um processo semelhante. Você vai se deitar ali, vou fazer alguns procedimentos e fazer com que você… sonhe em tempo real, por assim dizer.

“Vamos começar?”

Eu abri meu coração. Agora é hora de você abrir o seu. Curtiu? Então deixa suas palmas aí nesse texto se ele fez você refletir ou mesmo sentir alguma coisa. Vale até se te arrancou um sorriso. Se você quiser me acompanhar mais de perto e saber com exclusividade o que eu penso, você pode clicar no botão ao lado da minha foto para me seguir no Medium e sempre ficar de olho nas publicações.

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Bruno Garofalo

Levando poesia à vida comum. Textos às segundas, com (cada vez menos) raras exceções. Escrevo sobre o que quer que me inspire.